quinta-feira, agosto 31, 2006

O Triângulo Escaleno

Juntam-se dois amigos e convidam um terceiro para lhes fazer companhia todos os domingos à noite, para falar de si e da música que o rodeia. Ao longo de duas horas, ouve-se e fala-se de música no plural, argumenta-se, ensaia-se e desmistificam-se os meandros mais obscuros e mais solarengos da música popular destes e de outros dias, fazem-se piropos e declarações de ódio, fala-se da actualidade e apresenta-se a semana de palcos que aí se inicia. E o triângulo que se senta à mesa é escaleno, em prol da diversidade angular, contra a uniformização, contra os triângulos isósceles e outras figuras geométricas de lados e ângulos sempre iguais que teimam em invadir os nossos ouvidos.

Triângulo Escaleno é realizado por João Gonçalves e Vítor Junqueira, que se conheceram em 98, na Musicnet, quando um colaborava e o outro dirigia aquele projecto entretanto extinto. João colabora actualmente com o Disco Digital e com a Mondo Bizarre. Vítor escreveu em 2004 a biografia dos Mão Morta, "Narradores da Decadência", e colabora com a Mondo Bizarre.

QUÍMICA FM - PAIXÃO, INDEPENDÊNCIA, MILITÂNCIA

No dia 1 de Setembro de 2006 nasce, no concelho de Cascais, um projecto de rádio ímpar no panorama actual da Grande Lisboa.
A Química FM, que emite em 105.4 FM, é um projecto financeira e esteticamente independente, motivado pelo prazer de fazer e ouvir rádio.
É uma rádio feita por pessoas, e não uma máquina de alinhar discos.
A Química FM ocupa, tanto fisicamente como no éter, o espaço que pertence à CSB Rádio.
Nasce, sobretudo, da vontade e da necessidade urgente de devolver à área da Grande Lisboa o amor pela rádio feita por gente apaixonada por música e pela nobre arte de comunicar.
Nasce, desde logo, desalinhada da ditadura da formatação que se abateu sobre o espectro radiofónico nacional.

Na Química FM não há playlists.
O que há, acima de tudo, é a música que melómanos de longa data – entre músicos, DJs e jornalistas – acumularam e continuam a acumular nas suas colecções.
É, por isso, uma rádio feita com os mesmos critérios com que minuciosamente se constrói uma discoteca caseira.

Na Química FM haverá pop, haverá electrónica, haverá as chamadas músicas do mundo, haverá jazz, haverá espaço para experiências sónicas, haverá reggae e, naturalmente, haverá atenção sobre a produção portuguesa.
Sempre, e aí reside o maior trunfo desta rádio, com os olhos postos naquilo que não é óbvio, naquilo que não é debitado em larga escala pelos órgãos de comunicação actualmente existentes.

A Química FM não é escrava de estudos de mercado nem de auditorias inconsequentes.
É, isso sim, o espelho do que de mais relevante e pungente foi e continua a ser produzido dentro de um universo que se convencionou chamar de alternativo.
A grelha da Química FM é o alinhamento de pessoas “reais” ao longo do dia e da semana.
É o alinhamento de programas mais generalistas e de uma considerável dose de programas de autor, a área onde toda a História da rádio sempre conheceu maior criatividade.

A Química FM não é transgressora por sê-lo, não vive com uma atitude gratuíta de confronto.
Se se mostra desalinhada é porque, ao longo dos anos, o panorama radiofónico português se encaminhou para um estado vegetativo de normalização.
Além da música, que é a figura central da actividade da Química FM, abre-se igualmente espaço para a informação.
Sem sobrecarga, sem um peso insustentável, mas devidamente doseada e dividida em espaços ao longo do dia.
À informação generalista juntar-se-á uma importante componente de informação cultural.

Na Química FM, a cultura não é um monstro assustador e anafado, mas um objecto de prazer genuíno.
A partir de 1 de Setembro, a Grande Lisboa passa a ter uma alternativa real ao tom monocórdico que caracteriza o espectro radiofónico.
Passa a ter uma rádio com gente dentro.

A Condução Eléctrica, A Indução Magnética, A Recepção Simbiótica estão activadas no laboratório da Química em 105.4 FM.

Química FM
Agosto 2006